quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Escassez de engenheiros


Resenha: Disponibilidade de mão de obra qualificada para o curto e médio prazo: uma proposta metodológica aplicada ao caso dos engenheiros em Minas Gerais.

                                        (Original de Octavio Alcantara Torres)
(http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/AMSA-9D8PX5)

Essa pesquisa tem especial importância para os gestores públicos, visando planejamentos futuros e para que possam antecipar ações frente as dificuldades que poderão surgir. Estudos apontam que nos últimos anos o Brasil vem experimentando um forte ritmo de crescimento econômico, o que tem provocado preocupações de empresários e estudiosos quanto a uma possível falta de mão de obra. Verdade é que, se comparado a países como China, Coréia, Estados Unidos e Japão, o Brasil está realmente atrasado, tanto no que se refere ao estoque, quanto à formação destes profissionais. Neste sentido, realiza-se uma análise do atual estoque de engenheiros em Minas Gerais para identificar se o estado segue a mesma tendência observada no país. Além disso, realiza-se uma projeção do estoque destes profissionais, segundo sexo e idade, no período 2010-2030.
O atual panorama mineiro, bem como o brasileiro, é de escassez de engenheiros. Produto do insuficiente investimento realizado para a formação deste tipo de mão de obra no passado. Este quadro pode ter sido determinado pela limitação de recursos, dado o cenário de crise econômica vivenciado em todo o país em décadas passadas, ou por um deficiente planejamento de longo prazo ou mesmo, pela combinação de ambos. Observa-se que a crise econômica de 1980 exerceu forte impacto sobre a dinâmica da população de engenheiros, não apenas em Minas Gerais, mas em todo o país; prova disto são as marcas na estrutura etária destas populações. A primeira causa seria a crise, que reduziu a procura por cursos de engenharia, uma vez que não havia tanta demanda do mercado por este profissional, reduzindo assim o volume de egressos. Outra suspeita é que a baixa demanda do mercado por este profissional tenha atuado como um fator de expulsão territorial do mercado, obrigando-os a emigrar para outros países em busca de emprego. Carvalho (1996) mostrou que a emigração internacional brasileira neste período foi intensa e, muito provavelmente, isto inclui profissionais de engenharia. Este é um aspecto que merece uma agenda de pesquisa. Os dados mostram, contudo, que tem havido no país uma forte expansão do ensino superior, bem como dos cursos de engenharia, produção e construção. Recentemente em Minas Gerais o volume de egressos em engenharia passou de 4,1 mil em 2000 para 8,5 mil em 2011, um crescimento de aproximadamente 105%. Contudo, o estado ainda pode ser considerado atrasado na formação destes profissionais quando comparado à populações de países como China e Coreia, que vivenciam um momento demográfico semelhante. Entretanto, o estado encontra-se diante de uma janela de oportunidades, provocada pelo bônus demográfico, que torna este momento ideal para o investimento em capital humano. No caso específico dos engenheiros, esta janela de oportunidades tem sido potencializada pelo cenário econômico do estado, que tem demandado por este profissional
As projeções de mão de obra qualificada podem contribuir para avaliar se o bônus demográfico tem sido aproveitado da melhor forma, bem como para viabilizar um sólido planejamento de curto e médio prazos, tanto por parte dos gestores públicos como da iniciativa privada. O arcabouço teórico do presente trabalho permite concluir que a formação de mão de obra qualificada está apoiada em um tripé cujas hastes são: Sistema econômico, Sistema Educacional e Componente Demográfico. Sendo assim, projeções da demanda por profissionais qualificados, planos diretores da educação, bem como, projeções demográficas configuram-se como insumos importantes para trabalhos de projeções de mão de obra qualificada. Do ponto de vista metodológico, poucas alterações seriam necessárias para a incorporação das novas informações fornecidas por estes insumos. Por utilizar apenas bases de dados de acesso público, a metodologia apresentada permite fácil replicação da análise para diversas áreas de formação do ensino superior brasileiro, como médicos, professores, ou ainda, profissionais com mestrado e doutorado, dentre outros. Outra contribuição metodológica do presente trabalho refere-se à incorporação da questão migratória, que ainda não havia sido contemplada nos estudos anteriores. Simulações realizadas nesta pesquisa pode indicar o que seria esperado para a população de engenheiros no estado de Minas Gerais, caso aquelas medidas estabelecidas em suas respectivas hipóteses se cumpram efetivamente. Isto significa que caso haja uma desaceleração do ritmo de expansão do número de vagas e não se efetue nenhuma melhoria quanto ao percentual de preenchimento destas, bem como da redução da evasão, espera-se que o estado tenha em 2030 uma razão egresso por habitante semelhante à da China em 2006. Em contrapartida, caso a expansão do número vagas sofra uma desaceleração menos brusca e sejam realizadas melhorias de modo a aumentar o percentual de vagas preenchidas.
Este artigo serve de estímulos a todos nós, estudantes de engenharia, demonstrando que não há um risco de "apagão" generalizado de mão de obra de engenharia no Brasil, especialmente em Minas Gerais. Isso nos deixa mais confortáveis enquanto estudantes, pois há uma luz ao fim do túnel.  Existem algumas pressões, mas em termos quantitativos, essas pressões tendem a ser resolvidas com a ampliação da oferta dos novos engenheiros, uma vez que os cursos de engenharia voltaram a atrair os alunos. Porém, deparamos com fatores que podem explicar a percepção de alguns agentes econômicos sobre escassez de mão de obra em engenharia: a qualidade dos engenheiros formados, uma vez que a evolução na quantidade pode não ser acompanhada pela mesma evolução na qualidade.
 A projeção apontada se deu em três cenários simulados, os quais apontam para um crescimento significativo do volume de engenheiros no estado nas próximas décadas. Este crescimento virá acompanhado de um rejuvenescimento apontando para um aumento na participação feminina na população de engenheiros. Lembrando que, do ponto de vista demográfico, Minas Gerais está diante de uma janela de oportunidades . Como foi abordado, há necessidade de se realizar investimentos em educação, e, diante do cenário de mudanças de governo temos que ficar atentos a novas escolhas.


“Daniel Matozinhos, Acadêmico do Curso de Engenharia- UNA/Betim,MG”

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