AVALIAÇÃO NA ESCOLA: PARADIGMAS, CONCEPÇÕES E CONFLITOS
Ivani da Silva Ferreira
RESUMO
O presente artigo busca analisar e refletir sobre as formas através dos quais a avaliação vem sendo usada nas escolas e com isso buscar novos elementos para a compreensão da maneira correta de usar a avaliação. Este instrumento foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica e o problema a ser pesquisado foi definido considerando-se a perspectiva construtivista e o como avaliar nesta vertente. Os educadores têm necessidade de se assegurar sobre posturas avaliativas no contexto educacional em que estão inseridos para que o aluno seja respeitado e encaminhamentos eficazes sejam adotadas . A avaliação deve estar voltada para a reflexão e não punição. A escola é lugar de aprender, e aprender inclui errar. Tratar essas informações no processo avaliativo significa ler, analisar e utilizar os resultados obtidos durante e ao final do processo. Assim, a avaliação deve transformar-se em momentos constantes de compreensão das dificuldades dos alunos e no oferecimento de novas oportunidades de aquisição de conhecimento. Seus resultados devem servir para orientação da aprendizagem, cumprindo uma função eminentemente educacional.
Palavras-chave: Concepção. Formas. Instrumentos
Introdução
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e reorientar o trabalho para correções necessárias.
Segundo Luckesi, “a avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino-aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho”.
Sousa (1993) destaca
como finalidade principal da avaliação o fornecer sobre o processo pedagógico informações que permitam aos agentes escolares decidir sobre intervenções e redirecionamentos que se fizerem necessários em face do projeto educativo definido coletivamente e comprometido com a garantia de aprendizagem do aluno. (p. 46)
Para Gadotti (1990) “a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação”.
Assim, a avaliação da aprendizagem só pode acontecer se for relacionada com as oportunidades oferecidas, ou seja, analisando a adequação das situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar.
A atividade de avaliação exige critérios claros que orientem a leitura dos aspectos a serem avaliados. É preciso contar com instrumentos diversificados, de forma que constate diferentes habilidades dos alunos. Somente assim, o professor terá elementos para identificar os diferentes níveis de entendimento de seus alunos acerca de determinado conteúdo e planejar ações que permitam aos alunos avançar nesses níveis.
Desenvolvimento
A avaliação orienta o professor com elementos para uma reflexão contínua sobre sua prática. Para o aluno é o instrumento de tomada de consciência de suas conquistas e dificuldades. Para a escola, torna possível definir prioridades e localizar quais aspectos das ações educacionais demandam maior apoio.
A avaliação deve envolver momentos de diagnóstico e de acompanhamento do processo educativo, o que permite conhecer a realidade para a qual se formula um projeto pedagógico e realizar os ajustes necessários ao seu sucesso.
Para Luckesi (1998),
a avaliação deve ser um instrumento auxiliar de aprendizagem e não um instrumento de aprovação ou reprovação “aluno”. A avaliação deve ajudar tanto o professor como o aluno a se auto avaliarem em conjunto, encontrarem um forma de prosseguir no processo, redirecionando quando necessário a caminhada. (p. 98)
Segundo Castro, “a avaliação não deve ser vista como uma caça aos incompetentes, mas como uma busca de excelência pela organização escolar como um todo”.
A avaliação instrumentalizará o professor para que possa por em prática seu planejamento de forma adequada às características de seus alunos. Neste momento o professor terá conhecimento sobre o que o aluno domina sobre determinados conteúdos e reestruturar o programa para sanar suas dificuldades. Somente assim, o professor terá informações necessárias para propor atividades e gerar novos conhecimentos.
A LDB, ao citar a avaliação escolar, determina que:
sejam observados os critérios de avaliação contínua e cumulativa da atuação do educando, com prioridade dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais (Art. 24, V-a).
A avaliação deve ser entendida como instrumento para o desenvolvimento das atividades didáticas e requer que ela seja interpretada como um momento de observação de um processo dinâmico e não linear de construção do conhecimento.
Para Caldeira (2000):
A avaliação escolar é um meio e não um fim em si mesmo; está delimitada por uma determinada teoria e por uma determinada prática pedagógica. Ela não ocorre num vazio conceitual, mas está dimensionada por um modelo teórico de sociedade, de homem, de educação e, conseqüentemente, de ensino e de aprendizagem, expresso na teoria e na prática pedagógica. (p. 122)
A avaliação é concebida como elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino e deverá ser um conjunto de ações que tenha como objetivo o ajuste e a intervenção pedagógica, como diz Freire (1997), “a avaliação não é o ato pelo qual A avalia B, mas o processo pelo qual A e B avaliam juntos, uma prática, seu desenvolvimento, os obstáculos encontrados ou os erros e equívocos porventura cometidos”.
Luckesi (2000), afirma que
a avaliação da aprendizagem escolar auxilia o educador e o educando na sua viagem comum de crescimento, e a escola na sua responsabilidade social. Educador e educando, aliados, constroem a aprendizagem na escola, e de aqui à sociedade (p.171).
Definir finalidades, metas e processos para a totalidade da ação educativa escolar envolve reconceituar a avaliação para além de sua especificidade. O trabalho do professor deve compreender dimensões mais amplas que extrapolam os limites dos conteúdos transmitidos aos alunos
Nesse sentido, não basta apenas aplicar provas e atribuir notas ou conceitos, é preciso analisar as respostas dadas pelos alunos. Esse procedimento, se realizado em conjunto com os educandos, possibilita não apenas o diálogo sobre erros e dificuldades de aprendizagem, mas a reflexão sobre os processos percorridos pelo aluno na construção do conhecimento. Avaliar a aprendizagem implica avaliar o ensino oferecido.
Moretto (2002) coloca que,
é necessário que o professor conheça as características do grupo como um todo, o desenvolvimento cognitivo, psicológico e social e, a partir daí, organize condições adequadas para a aprendizagem, redirecionando o planejamento, dentro de seus aspectos de flexibilidade, e suas estratégias de ensino, pois aprender é construir significados e ensinar é oportunizar esta construção (p.58).
Assim, a avaliação terá a função diagnóstica, pois possibilitará ao professor novas ações e ajustes no seu planejamento, no qual serão respeitados os limites e as especificidades dos alunos.
Como a avaliação acontecerá de forma sistematicamente durante as atividades de ensino e aprendizagem, é necessário que a perspectiva de cada momento da avaliação seja definida claramente. No momento da avaliação, é preciso ter em mente um ou mais parâmetros que servirá de medida para apreciar o que está sendo avaliado. Para tanto, é fundamental definir critérios onde caberá ao professor listar os itens realmente importantes, e informá-los aos alunos, pois a avaliação só tem sentido quando é contínua, provocando o desenvolvimento do educando.
Conclusão
Quando se trata de avaliar a aprendizagem, ainda são freqüentes alguns equívocos, especialmente acerca dos aspectos qualitativos e quantitativos da avaliação. A avaliação tem um significado amplo, à medida que oportuniza a todos os envolvidos no processo educativo momentos de reflexão sobre a própria prática.
Cabe ao educador uma reflexão permanente sobre a sua realidade, um acompanhamento contínuo do educando, na trajetória da construção do conhecimento. O ato de avaliar exige cuidados metodológicos científicos. No caso de ações planejadas, a avaliação também necessita de ser cientificamente planejada e executada com o mesmo rigor.
O processo avaliativo deve, além dos resultados sobre a aprendizagem dos alunos, possibilitar que o professor verifique se os objetivos propostos no planejamento estão sendo atingidos. Cabe ao professor despertar nos alunos a paixão pelo conhecimento, pelo aprendizado, para que gere prazer. Esse prazer deve ser um elemento presente constantemente nas salas de aula e que a motivação deve estar no aprendizado e não no medo que se caracteriza na prática de uma avaliação autoritária.
Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu verdadeiro papel, terá que estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social. O professor deverá rever sua prática, pois ela não é neutra. Para que isso ocorra é necessário assumir um posicionamento pedagógico claro e explícito, para que possa orientar o planejamento, a execução e a avaliação da aprendizagem.
A avaliação deve acompanhar o percurso e sinalizar novos caminhos, não mais ser vista como “arma” que minimiza o progresso e elimina a autenticidade dos envolvidos. Todo processo de avaliação deverá encaminhar o aluno por trilhas seguras, onde mesmo “errando” poderá perceber que é capaz de acrescentar, amadurecer e acertar. A avaliação deve ter como finalidade a orientação da aprendizagem, a autonomia dos aprendizes em relação à mesma e a verificação das competências adquiridas.
REFERÊNCIAS
BENVENUTTI, D. B. Avaliação, sua história e seus paradigmas educativos. Pedagogia: a Revista do Curso. Brasileira de Contabilidade. São Miguel do Oeste – SC: ano 1, n.01, p.47-51, jan.2002.
BRASIL. Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LEI No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
CALDEIRA, Anna M. Salgueiro. Avaliação e processo de ensino aprendizagem. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v. 3, p. 53-61, set./out.1997.
CASTRO, A. D. & CARVALHO, A.M.P. Ensinar a Ensinar: Didática para a Escola Fundamental e Média. São Paulo: Pioneira Thonison Learning LTDA, 2001. Cap. 9.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
GADOTTI, Moacir. Educação e Poder - Introdução à Pedagogia do Conflito. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 1988.
LUCKEZI, CIPRIANO G. Avaliação da Aprendizagem Escolar. SP. Cortez, 1.995.
MORETTO, Vasco Pedro. Prova – um momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas. 3 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
PERRENOUD, p. Não mexam na minha avaliação. In: ESTRELA, A., NÓVOA, A. Avaliações em Educação: novas perspectivas. Porto (Portugal) Porto Editora, 1999.
SOUSA, Sandra M. Z. L. Avaliação da aprendizagem: ênfase nas presentes pesquisas no Brasil de 1930 a 1980. Cadernos de Pesquisa, São Paulo: Fundação Carlos Chagas, n. 94, p. 46, 1995.
Bom material. Pelo jeito, parece bem interessada na formação dessas crianças. Que tal visitar este espaço: http://biblioteka.hd1.com.br (gratuito). Lá estamos postando diversos materiais em áudio, inclusive, mais de 120histórias infantis.
ResponderExcluirFique à vontade para comentar.
Abraço,
Prof. Heraldo Meirelles
Parabéns gostei muito desse artigo, precisamos de pessoas que estejam realmente comprometidas com a educação. Percebo que você é uma delas e que sinceramente ama o que faz.
ResponderExcluirTexto bom, com bons fundamentos, vamos aproveitá-lo para uma prática em sala de aula, no trabalho de conclusão de um curso universitário.
ResponderExcluirObrigada!
Maristela Vidaletti Silva
boa matéria gente, adorei
ResponderExcluirbom texto, vou aproveitar sendo Docente que sou. obrigado gente adorei.
ResponderExcluirEstou aproveitando muito do seu blog.
ResponderExcluirParabéns e muito obrigada.
ótimo artigo sobre avaliação.
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